quarta-feira, julho 23, 2003

Uma órbita só...

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há muito tempo percebemos que era redonda, mas não percebemos que era um ovo... parámos no tempo. acreditámos piamente naquilo e nunca mais nos questionámos...
era mesmo um ovo. digo "era" porque pouco tempo depois da descoberta, a gema de fogo comeu tudo o resto e fez eclodir da crosta quatro subtís patas dedudas, uma cauda montanhosa e um focinho ávido de experimentar os dentes...
era preguiçoso. continuou a rebolar dormente no universo, e nenhum de nós e deu por nada... sismos e vulcões diziamos, na mais perfeita ilusão.
agora todos nós, ex-parasitas, sabemos que Terra é um dragão...
na sua juventude, expulsou-nos a todos da sua superfície com meia dúzia de sacudidelas empoeiradas (fazíamos demasiada comichão) e desatou a galopar infinitamente a direito... saíu da sua órbita, e sem órbita ficou irremediávelmente cego...
nós ficámos para trás, a sentí-lo desaparecer numa núvem de poeiras cósmicas...
esfomeados, gravitámos individualmente no espaço, suspensos em restos de Terra durante todo este tempo...
escamas velhas que se soltaram da lenda fumegante navegam ainda sob os nossos pés...
cada um de nós tem agora a sua própria órbita... sim, agora vemos!... vemos tanto mais que num único instante vimos a nossa historieta completamente recontada...
será que é desta que conseguimos ver um palmo de realidade à nossa frente?!
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