cetim
.
.
meia triste,
meia azul,
meia acabada
já dormia noutra história
quando a porta ronronou de mansinho.
abri um olho escondido
e o contraluz deu-me duas colunas de silêncio
negras e grossas
tal como tu...
passaste dois passos pesados a ferro
e aninhaste-te ali
num estremecer de pés de cama
num silêncio trapalhão
de quem não sabe gerir o volume que tem
e quanto mais se esforça, mais barulho faz.
senti de olhos fechados
que as nossas respirações se cumprimentavam
que me olhavas cheio de pachorra e de pestanas.
levantei-me e saí...
na tela dos sonhos,
a tua era uma sombra chinesa
uma núvem cómica
que puxava as orelhas aos maus
e os lançava fora da janela do meu sono.
diminuias o volume dos gritos
e desenhavas sorrisos toscos nas caras encrespadas
bigodes revirados e narizes vermelhos
nas rugas dos problemas
eu sorria ria gargalhava
em bolhinhas divertidas debaixo de água
e achava bom...
acordei muito tarde
depois de um longo mergulho de escuro
profundo sem memória.
a luz raiou entre dentes
e tu estavas ainda lá
feito pequeno e simples
muito pequeno
muito simples...
levantei com as duas mãos
o teu peso cheiínho de sono
abracei-te num cobertor de mim
afaguei o cetim das tuas orelhas
(semicerravas os olhos e elas deitavam-se embevecidas
debaixo da palma da minha mão inteira)
depois dei-te um beijo
parecido com um banho de água morna
e a tua testa adormeceu...
consenti.
era a minha vez...
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meia triste,
meia azul,
meia acabada
já dormia noutra história
quando a porta ronronou de mansinho.
abri um olho escondido
e o contraluz deu-me duas colunas de silêncio
negras e grossas
tal como tu...
passaste dois passos pesados a ferro
e aninhaste-te ali
num estremecer de pés de cama
num silêncio trapalhão
de quem não sabe gerir o volume que tem
e quanto mais se esforça, mais barulho faz.
senti de olhos fechados
que as nossas respirações se cumprimentavam
que me olhavas cheio de pachorra e de pestanas.
levantei-me e saí...
na tela dos sonhos,
a tua era uma sombra chinesa
uma núvem cómica
que puxava as orelhas aos maus
e os lançava fora da janela do meu sono.
diminuias o volume dos gritos
e desenhavas sorrisos toscos nas caras encrespadas
bigodes revirados e narizes vermelhos
nas rugas dos problemas
eu sorria ria gargalhava
em bolhinhas divertidas debaixo de água
e achava bom...
acordei muito tarde
depois de um longo mergulho de escuro
profundo sem memória.
a luz raiou entre dentes
e tu estavas ainda lá
feito pequeno e simples
muito pequeno
muito simples...
levantei com as duas mãos
o teu peso cheiínho de sono
abracei-te num cobertor de mim
afaguei o cetim das tuas orelhas
(semicerravas os olhos e elas deitavam-se embevecidas
debaixo da palma da minha mão inteira)
depois dei-te um beijo
parecido com um banho de água morna
e a tua testa adormeceu...
consenti.
era a minha vez...
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