quinta-feira, julho 22, 2004

cheiro a pasta de papel...


fotomote 1 série 2004

semi-vida

depois do dia de trabalho, tiravamos as máscaras da obediência
ficavam, submissas, numa insónia de olhos fixos no tecto
à espera que morressemos de novo para o mundo na manhã seguinte

 
tempo perdido

é mais difícil arranjar tempo
quando não fazemos nada dele
e o tanto tempo que gastamos
fica depois ali branco e esquecido e inútil
feito coisa que olha para o tecto mal morta
que só atrapalha na azáfama viciosa
tumulto que não nos leva a lado nenhum
para quê começar?...

naquele tempo

éramos 8
naquele tempo não havia televisão
e muito menos consolas de jogos
fazíamos sempre coisas muito giras
tardes super interessantes
a escola não era nada desta porcaria de hoje
fizémos até máscaras de pasta de papel
para uma peça de teatro
com textos e cenários do outro mundo
que nunca foi a sítio nenhum.
ditou um deus bêbedo qualquer
que fossemos teatrando  cá por este
durante décadas de adormecer
em que não me lembro o que passou
das tais máscaras, as que não sobraram
já não encaixam por causa das dentaduras...