terça-feira, setembro 02, 2003

a areia a escorrer-me entre os dedos, num dia de ventania

@marmes
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os grãos de areia penteiam-me a pele dos dedos
deixam as minhas mãos brancas como as de uma estátua
passam por mim
levam de mim
deixam-me a arder
mas vêm e logo vão
como as gotas de água de um banho
como as moléculas de ar que respiro
como as caras e corpos e trajes e sapatos e solas gastas
que atravesso na multidão
levam de mim o pó dos dias
e deixam-me a pele a arder
de riso ou tristeza
com alguns olhares
com alguns odores
com alguns tilintares de pestanas
que fazem cócigas
digo olá só com os olhos
para logo me despedir
os abandonar
na água da banheira
no resto do ar
na multidão que desencontro
na praia que filtro com os dedos
todos os dias
em busca de pedras preciosas e lixo
para os meus alicerces...