terça-feira, agosto 19, 2003

Estar parado...

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Era uma empregada doméstica feita de cera e um cão de peluche com olhos de vidro. As duas sombras encostaram-se ali a um recorte da parede do Palácio da Bolsa. Ele vivo. Ela... não sei. Estava parada. Imóvel. De pé. Olhar fixo numa luz qualquer. Longe na noite.
Estar parado mete medo. Pare-se num momento qualquer, sem ser em espera ou noutra actividade em que a imobilidade seja aceitável e logo se sente a tensão crescente no ar à volta. As conversas que vêm de encontro a nós diluem-se... Ninguém olha... Os passos endireitam-se e batem mais ritmados... numa marcha... numa fuga. Pensar não é desculpa... Ninguém pára para pensar assim, a meio do caminho... Pode-se pensar em andamento, ou sentado num banco com ar distante... Parar assim é que não. Assusta.
Talvez ela nunca tenha feito mal a ninguém, mas hoje devia chegar a casa com remorsos...e não foi preciso fazer nada. Foi apenas nada o que foi preciso fazer para os ver a fugir...