sábado, agosto 23, 2003

Casamento

.
.
Fragância não... pretencioso... um aroma, um mero cheiro...
Adoptei-o.
Andava solto por aí e foi agarrado num instante por uma mão... minha... só.
Guardei-o escondido, clandestina.
Surpreendeu-me, pois não fugiu. Deve ter gostado... Agarrou-se antes a mim com unhas e dentes. Ficou prisioneiro voluntário. Cravado na minha pele. Fez-me sangrar, até... Depois entrou feridas dentro, foi sangue fora. Enlaçamo-nos. Destruímo-nos até sermos uma argamassa em pedaços no chão. Refizémo-nos depois mistura, numa matriz fisicoquímica inseparável. Braços e pernas e pescoço e boca e dedos a subir por aquele enredo de feromonas.
Se não recordasse o momento em que nos encontrámos, já não me lembraria dele... Por ser "eu" comigo, não o reconheço. Nem reparo se vive, se cresce, se se altera com a idade...
Talvez seja ele o ingrediente especial do ar que respiro: o grande responsável por esta alucinação constante do ser e viver "eu"...
Dizem os outros que ainda aqui está, que ficará até que a morte nos separe... pois.
Resta saber se o perderei por morrer, ou se morrerei por perdê-lo.